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Autor
Ano XVII • 2000-06-30 • nº 3 • Maio/Junho
O Desejo
 
palavra-chave
 
   

artigos
Desejo e cobiça na perspectiva teológico- -antropológica • pág 197
Figura, Michael
Não cobiçarás. Observações sobre o nono e décimo mandamentos do Decálogo • pág 207
Hentschel, Georg
Ambivalência do desejo • pág 219
Carvalho, M. Teresa Ornelas
O desejo é força de vida • pág 231
Neto, Margarida Gonçalves
O dom das lágrimas. A mística das emoções • pág 237
Mattoso, José
Imortalidade do desejo, desejo de imortalidade • pág 254
Silva, João Henrique
O sermão de Benares • pág 266
Correia, Carlos João
Publicidade e bem comum • pág 277
Pontifício Conselho para as Comunicaões Sociais
Desejo e toxicodependência • pág 286
Miguel, Nuno Silva


apresentação

JERÓNIMO TRIGO – JOSÉ ORNELAS DE CARVALHO


No final de uma sequência de temas relacionados com o Decálogo, que já vem dos anos anteriores, o presente número da COMMUNIO trata do desejo, a propósito dos nono e décimo mandamentos que dizem respeito à cobiça ou concupiscência, como desejo desordenado. Logo no primeiro artigo, M. Figura expõe como o desejo é uma orientação natural do homem para um objectivo digno de ser prosseguido; sob a forma de desejo natural de Deus, ele orienta mesmo o homem para a sua plena realização na Transcendência a que é vocacionado. Mas, se o acto espontâneo do desejo em si faz parte da natureza, ele necessita de ser integrado na decisão livre da pessoa, com o risco dos possíveis desvios.
G. Hentschel estabelece o significado das duas diferentes formulações de ambos os mandamentos (Ex 20,17 e Dt 5,21), confrontando as suas principais interpretações. Conclui que a proibição de cobiçar visa, antes de mais, a protecção do próximo e dos bens que lhe são essenciais à vida. Estes mandamentos abrem-se, assim, para uma cultura do amor, da atenção ao outro e da moderação, e propõem a qualidade de vida em contraposição à quantidade do possuir.
No âmbito da psicologia e psiquiatria, o desejo entende-se em ordem à realização pessoal. Para o comportamento infantil, como nos recorda M. Teresa Ornelas Carvalho, é de grande importância a qualidade do primeiro e mais fundamental objecto de satisfação do desejo – as chamadas figuras de vinculação, habitualmente o pai e a mãe. A ambivalência do  desejo na criança surge precisamente da sua relação positiva ou negativa com essas figuras, marcando o seu desenvolvimento futuro. Enquanto para a psicanálise – e trata-se agora do artigo de Margarida Neto – o desejo é visto enquanto resultante de uma falta e da necessidade de re-  solver uma tensão, para o cristianismo o desejo é sobretudo força de vida, em que alguém se torna capaz de autotranscendência, é movimento ao encontro do outro e de Deus.
Os autores medievais, particularmente os de formação monástica, vêem no dom das lágrimas uma manifestação física enquanto expressão e desejo de uma intensa relação com Deus, ao contrário da cultura actual que as olha com grande desconfiança (“um homem não chora”). J. Mattoso faz esta constatação ao percorrer na história o lugar que a mística das emoções ocupa na vida espiritual cristã.
Utilizando a grelha de análise do desejo mimético segundo René Girard, João Henrique Silva aplica-a ao romance A Imortalidade de Milan Kundera, mostrando-nos a espantosa capacidade da literatura em revelar os verdadeiros mecanismos do desejo humano.
Diz-nos Carlos João Correia que, para a tradição budista, o sermão de Benares – primeiro sermão daquele que é chamado o Buda – serve de referência doutrinal determinante. Aí são criticados os desejos que nos aprisionam e arrastam para as decepções e frustrações, mas tendo também como certo que será possível ultrapassar essa ânsia por meio de uma libertação (Nirvana).
Na sociedade actual, a publicidade tem uma função a desempenhar que será positiva se estiver ao serviço do bem comum. Geralmente deseja-se em virtude do que é mostrado por um outro, como modelo a imitar. A publicidade tem este carácter mediador que desperta desejos. Para as suas virtualidades mas também para os seus perigos nos adverte o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.
O psiquiatra Nuno Silva Miguel coloca-nos, finalmente, perante os dois desejos contraditórios do toxicodependente, e da necessidade de nós o ajudarmos no seu real mas frágil desejo de mudar de vida.

 

 
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