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Titulo do Artigo
Autor
Ano XXV • 2008-06-30 • nº 2 •
A Transfiguração
 
palavra-chave
 
   

artigos
"Jesus, a Lei e os Profetas". O papel de Moisés e Elias na Transfiguração • pág 135
Rebic, Adalbert
A Transfiguração de Jesus. A revelação do Filho de Deus • pág 145
Carvalho, José Carlos
De João Crisóstomo a Gregório Palamas. Leituras sobre a Transfiguração de Padres e escritores gregos • pág 155
Fedalto, Giorgio
A festa da Transfiguração • pág 165
Cordeiro, D. José Manuel Garcia
Divino e humano na 'Transfiguração' de Rafael • pág 175
Dombrowski, Damian
O Reino dos céus desde aqui? • pág 193
Morales, Xavier
"A Transfiguração" na oratória de Olivier Messiaen • pág 205
Branco, João de Freitas
A vocação da Communio. Homilia em Fátima • pág 219
Alves, D. João
"A Fé ao desafio das culturas" nos principais fundadores internacionais da Revista Communio • pág 223
Galvão, Henrique de Noronha
Cultura e teologia em Henri de Lubac • pág 226
Armogathe, Jean-Robert
Hans Urs von Balthasar e os desafios da cultura • pág 230
Guerriero, Elio
Communio - Pontes entre a fé e a cultura. Ensaio em referência a Joseph Ratzinger • pág 244
Tück, Jan-Heiner
Encerramento do colóquio • pág 255
Policarpo, D. José da Cruz


apresentação

APRESENTAÇÃO
H. NORONHA GALVÃO - J. GARCIA AMBROSIO

De todos os Mistérios da Vida de Jesus, a Transfiguração é sem dúvida um dos que mais nitidamente evidencia a profundidade de significado que os caracteriza como revelação de uma realidade transcendente. Inserida num momento e contexto determinados da vida de Jesus, em que já se desenha a dramática que levará à sua rejeição, paixão e morte, esse acontecimento singular surge para prevenir os perigos da provação a que a fidelidade dos discípulos será rudemente sujeita. Aquilo que sem a fé pareceria destituído de qualquer sentido, aparecerá iluminado pelo próprio desígnio divino no âmbito do mistério que é a razão de ser da vida e do destino do Mestre. Qual seja esse desígnio é mostrado quer pela referência veterotestamentária à Lei e aos Profetas, representados por Moisés e Elias, quer directamente pela voz do Pai que declara Jesus como o Filho de Deus que deve ser escutado.
 Este número da COMMUNIO ajuda-nos a entrar, de forma desenvolvida, nos meandros do texto contido nos evangelhos sinópticos de Marcos, Mateus e Lucas. O ponto de partida da interpretação será necessariamente a versão mais antiga de Marcos a qual, ao ser retomada pelos evangelistas Mateus e Lucas, foi enriquecida com novos elementos e com a explicitação de aspectos a que cada um dos autores era mais sensível ou que assumiam particular significado para os destinatários de um e outro evangelho: convertidos do judaísmo, no caso de Mateus, ou do mundo helenista, no caso de Lucas. Publicamos estudos de dois exegetas, um croata e outro português, por nos parecer que, para além dos aspectos comuns, os dois se completam na análise do texto bíblico. O primeiro, de Adalbert Rebic, acentua como a presença de Moisés e Elias nos abre para o profundo significado do acontecimento: “O profeta Elias e o legislador e intercessor Moisés estão presentes na Transfiguração como as principais testemunhas em nome da Lei e em nome de todos os profetasa do Antigo Testamento. Testemunham que Jesus é o verdadeiro Messias e o verdadeiro Filho de Deus que é preciso seguir e escutar.”  O segundo, de José Carlos Carvalho, parte da presença dos discípulos na Transfiguração e da sua dificuldade em apreenderem o significado e alcance do acontecimento. O que está em causa é a própria vocação do discípulo: “Depois de tudo, aquilo que é exigido a um discípulo consiste apenas em escutar. E porquê? Porque [Jesus] é o Filho de Deus; o mesmo é dizer: o que está em causa é justamente a sua identidade  como Filho de Deus. Assim, o que é absolutamente decisivo é a proclamação da divindade do Filho de Deus, manifestada na humanidade de Jesus de Nazaré.”
O pensamento grego cristão deu uma particular atenção a esse acontecimento da vida de Jesus em que tornou manifesto como, na sua “condição de servo” (Fl 2,6ss), se revelava a sua glória divina. Giorgio Fedalto analisa um conjunto de homilias e hinos de Padres e escritores gregos, a começar por uma homilia atribuída a S. João Crisóstomo (349/350-407) e outras da mesma altura. Já em meados do sec. V, espelha-se nos textos analisados a problemática cristológica que estava no centro das acesas discussões entre as escolas de Antioquia e de Alexandria e que levará às definições doutrinárias dos concílios de Éfeso (431) e de Calcedónia (451). São exemplo de um estilo catequético em que nos mistérios da vida de Jesus se realçam as suas implicações decisivas para a vida concreta dos crentes. Os séculos seguintes continuam esta tradição de intenção pedagógica, leitura moral e inspiração orante. O autor termina com a figura singular de Gregório Palamas (1296/97-1357) e a sua leitura mais complexa da visão do Tabor: “Dir-se-ia que se constata aqui melhor a força da tradição grega para nos fazer apreender a realidade mais profunda.”
A aproximação seguinte ao Mistério da Transfiguração de Jesus, pelo liturgista José M. Garcia Cordeiro, é feita mediante a festa litúrgica que o celebra a 6 de Agosto, recordando-nos a síntese magnífica do Prefácio: “Na presença de testemunhas escolhidas, Ele manifestou a sua glória na sua humanidade, em tudo semelhante à nossa, fez resplandecer a luz da sua divindade para tirar do coração dos discípulos o escândalo da cruz e mostrar que devia realizar-se no corpo da Igreja o que de modo admirável resplandecia na sua cabeça.” A liturgia não só recorda o mistério mas torna-o presente pela celebração sacramental. Daí a sua importância central na vida da Igreja. É pelas festas litúrgicas que melhor nos apercebemos do significado e alcance dos acontecimentos da vida de Jesus enquanto intervenção salvífica de Deus na nossa existência. Mas é toda a vida de oração, nomeadamente  na sua alta expressão mística, que torna realidade entre nós o “Reino de Deus”, expressão esta utilizada por Jesus para significar a obra de salvação que ele nos oferece na história e se consuma para além da história. Daí poder-se afirmar que “a mística é o Reino de Deus já desde aqui, é a escatologia realizada”. Esta a afirmação que o cisterciense Xavier Morales aprofunda e desenvolve no seu artigo, a partir de vários protagonistas da experiência mística que a história da Igreja nos apresenta. Mas a conclusão a que se chegue tem de contar com o carácter de mistério do Reino de Deus: “Dizer que o Reino de Deus é um mistério, é dizer que não o encontraremos sozinhos. Considerá-lo como uma pergunta abre em nós um espaço livre para o acolher tal como é dado por Deus, isto é, para lá do que nós podemos imaginar. E quem é que coloca perguntas a toda a hora, sem sequer escutar as respostas? É a criança. Ora, justamente, Jesus diz-nos que este Reino pertence às crianças (Mc 10,14), e que é preciso tornar-se como uma criança para nele entrar (Mt 18,3).”
O acontecimento da Transfiguração tem inspirado várias obras da arte cristã, ao longo dos séculos, que muitas vezes representam uma expressão eloquente do seu profundo significado e do seu alcance para a vivência da fé. Uma das mais importantes é, sem dúvida, como salienta D. Dombrowski, o quadro de altar pintado por Rafael no primeiro quartel do sec. XVI. A sua exposição na sala central da Pinacoteca Vaticana não deixa qualquer espectador indiferente. Se já os próprios discípulos de Jesus dificilmente estiveram à altura do desafio que para eles foi o tema da Transfiguração, para os artistas que lhe quiseram captar o sentido a tarefa apresentava-se quase impossível. E, no entanto, ao grande pintor renacentista foi dado entrar na dramática do acontecimento, transportando-nos para essa incursão do mistério inefável na espessura das vivências humanas.
Uma outra obra significativa, agora no domínio da expressão musical, situa-se bem perto de nós, no sec. XX e com uma ligação particular a Portugal. A Transfiguration de Olivier Messiaen foi, de facto, encomendada pela Fundação Calouste Gulbenkian no 1º centenário do nascimento de Calouste Sarkis Gulbenkian, em sua homenagem, e teve a sua audição inaugural em Lisboa, a 7 de Junho de 1969. Autor convictamente católico, Messiaen pôs nessa obra ao serviço de uma fé intensamente vivida toda a riqueza e originalidade da sua técnica musical, como nos é explicado por João de Freitas Branco nas Notas Explicativas que escreveu para o evento. Aqui é a música que, apoiando-se em textos bíblicos e teológicos, nos dá acesso ao mistério de esperança que irradia dessa antecipação do Reino de Deus em toda a sua glória.
A secção das Perspectivas é toda ela preenchida com o dossier relativo à celebração dos 25 anos da edição portuguesa da Revista Internacional Católica COMMUNIO. A vocação da revista foi o tema da homilia em Fátima do bispo emérito de Coimbra, D. João Alves, que apoiou desde o início a iniciativa de fundar a revista em Portugal e a tem sempre acompanhado. Publica-se, igualmente, a tradução portuguesa das comunicações feitas num Colóquio na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, subordinado ao tema: “A fé ao desafio das culturas – nos principais fundadores internacionais da revista COMMUNIO”, juntamente com um resumo da discussão que se lhe seguiu. Três oradores pertencentes às mais antigas edições – alemã, italiana e francesa – apresentaram o pensamento de Henri de Lubac, Hans Urs von Balthasar e Joseph Ratzinger. Finalmente, transcrevemos as palavras finais do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, que presidiu ao Colóquio.

 
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