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Titulo do Artigo
Autor
Ano XXVII • 2010-12-31 • nº 4 •
Novos olhares sobre a Igreja
 
palavra-chave
 
   

artigos
Breve meditação sobre a visibilidade da Igreja. Ver a Igreja com os olhos da fé • pág 391
Dagens, Claude
Credo Ecclesiam. Para um cristianismo eclesial • pág 401
Cazzago, Aldino
Hermenêutica da reforma do Concílio Vaticano II • pág 417
Ratzinger, Joseph / Bento XVI
Unidade na diversidade no diálogo ecuménico • pág 425
Pinho, José Eduardo Borges de
Modelos filosóficos de Igreja nos Tempos Modernos • pág 443
Henrici, Peter
Política: a mais alta forma de caridade? • pág 457
Marques, Rui
A nova paróquia • pág 465
Falcão, D. Manuel
"Fendas fundas". O vencidismo católico como um novo olhar sobre a Igreja • pág 469
Revez, Jorge
Realidades eclesiais em África • pág 477
Alvarinho, Ida
O meu olhar sobre a Igreja • pág 483
Alvim, Margarida
Abrir-se/oferecer-se. Bento XVI convida o mundo da cultura ao diálogo • pág 493
Alferi, Thomas
"Para uma arte da procura interior". Uma proposta de José Tolentino Mendonça • pág 501
Pinto, Maria José Vaz


apresentação

M. Luísa Falcão – M. Luísa R. Ferreira – Juan Ambrosio


No discurso de inauguração do Concílio Vaticano II, o Papa João XXIII afirmava a importância de guardar o depósito sagrado da doutrina cristã e de o propor de forma mais eficaz; para isso, lembrava o Papa, “é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do património sagrado da verdade, recebido dos seus maiores; mas, ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida do mundo, que abriram novos caminhos ao apostolado católico.” (1)
Sabemos que já não foi João XXIII a presidir à segunda sessão do Concílio. Por isso as palavras que Paulo VI, o novo Papa então eleito, proferiu na inauguração da segunda sessão revelam-se muito importantes, pois elas confirmam uma das intuições mais fortes na origem do Concílio Vaticano II: “Se nós, veneráveis irmãos, colocarmos diante dos nossos olhos esta soberana ideia – de que Cristo é o nosso fundador, a nossa cabeça invisível mas real, e nós, todos, recebemos dele tudo, de modo que, assim, formamos com ele aquele Christus totus, o Cristo total de que fala St. Agostinho e de que a teologia da Igreja está intimamente penetrada – podemos compreender melhor os fins principais deste Concílio, que, por motivo de brevidade e de melhor inteligência, indicaremos em quatro pontos: o conhecimento, ou, se se preferir, a consciência da Igreja; a sua reforma; a recondução de todos os cristãos à unidade; e o diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo.” (2)
Bastam estes dois pequenos textos para percebermos como na base deste acontecimento – certamente um dos mais importantes da vida da Igreja – está um exercício de olhar numa dupla direcção: para o interior, de modo a procurar sempre a melhor maneira de permanecer fiel à sua identidade; para o exterior, de modo a procurar desempenhar sempre da melhor maneira possível a sua missão. Em certo sentido, podemos mesmo afirmar que este exercício de olhar não é simplesmente do âmbito do fazer, uma vez que toca o próprio ser da Igreja. Sem ele, a Igreja certamente não poderá permanecer fiel à sua identidade e missão.
Procurando contribuir para este exercício, a Communio dedica o quarto fascículo de 2010 a essa reflexão, partilhando com os seu leitores alguns dos Novos olhares sobre a Igreja.
No artigo intitulado Pequena meditação sobre a visibilidade da Igreja, Claude Dagens propõe-nos uma reflexão que parte de convicções fundamentais do exercício da sua missão episcopal em França, neste início do sec. XXI, e sobretudo da grande Tradição cristã. Nesse exercício, o autor afirma que a missão da Igreja consiste em revelar e comunicar ao mundo aquilo que recebeu de Deus através do mistério de Cristo e da acção do Espírito Santo. Para ele, tudo o que a constitui na sua estrutura hierárquica, bem como tudo o que ela realiza no mundo e na história humana está, para além de todas as aparências mais ou menos gloriosas, intimamente ligado ao mistério de Deus que ela é chamada a inscrever no coração da história humana. Por esse motivo, para que a Igreja possa verdadeiramente ser compreendida, ela tem de ser considerada a partir do olhar da fé. Só este olhar permite entender que ela é visível não simplesmente para ser vista, mas para deixar transparecer o compromisso de Deus com a salvação da humanidade.
Aldino Cazzago, em Credo Ecclesiam. Para um cristianismo eclesial, mostra-nos como no sec. XX se deu um renovado interesse pela Igreja, numa tentativa de responder às solicitações que “de dentro e de fora (...) chegavam à teologia”. Analisando as causas de um progressivo distanciamento por parte dos fiéis, o autor propõe o regresso a uma vivência experienciada do encontro com Cristo, o que leva necessariamente à construção de uma sociedade diferente daquela em que nos instalámos.
No dia 22 de Dezembro de 2005, o Santo Padre recebeu em audiência solene os Cardeais e Prelados da Cúria Romana para a apresentação dos votos de Natal. Nessa ocasião Bento XVI apresentou uma ampla reflexão acerca do modo como o Vaticano II foi recebido na Igreja. A partir do conceito de “hermenêutica da reforma”, distancia-se quer de uma hermenêutica de ruptura quer de uma hermenêutica que pretende congelar o passado para sempre. Trata-se de ver o Concílio Vaticano II como um acontecimento dentro da Tradição viva eclesial, em que a identidade da Igreja é preservada enquanto se renova para ir ao encontro das mentalidades e expectativas do nosso tempo, numa total fidelidade a Jesus Cristo, o seu único Senhor.
“Um dado adquirido na actual consciência ecuménica é a convicção de que a unidade da Igreja, que se procura realizar como dom de Deus e tarefa humana, só pode e deve ser uma ‘unidade na diversidade’.” Com estas palavras começa o artigo Unidade na diversidade no diálogo ecuménico, no qual José Eduardo Borges de Pinho procura mostrar, num primeiro momento, a razão por que há hoje um consenso fundamental entre as Igrejas e Confissões Cristãs quanto a esta convicção de que a unidade a construir só pode ser uma “unidade na diversidade”, sublinhando, num segundo momento, alguns dos problemas e tarefas a enfrentar para que a visão da Igreja una como “unidade na diversidade” se torne verdadeiramente um modelo operativo no caminhar ecuménico.
No seu artigo Modelos filosóficos da Igreja nos tempos modernos, Peter Henrici recorda-nos que foi nessa época que a doutrina da Igreja tomou a forma de um tratado teológico próprio, movida por uma intenção apologética na polémica sobre o entendimento de Igreja da Reforma. Nesse contexto surgiram diferentes modelos filosóficos de Igreja, de que o autor destaca quatro tipos fundamentais que, ainda hoje, determinam em vastos sectores a imagem da Igreja.
Política. A mais alta forma de caridade? A partir deste título, no qual coloca em forma de interrogação uma afirmação do papa Paulo VI, Rui Marques reflecte na capacidade transformadora de uma intervenção política inspirada pelos valores evangélicos.
No artigo A nova paróquia, D. Manuel Falcão reflecte como, ao longo dos vinte séculos da Igreja, as circunscrições pastorais (diocese e paróquia) foram evoluindo para se adaptarem às circunstâncias de cada época e lugar. A partir desse itinerário convida-nos a perceber a necessidade que as dioceses, com as respectivas paróquias, têm de se adaptar com realismo à nova situação sócio-cultural, procurando levar o Evangelho às diversa maneiras de pensar e viver, permanecendo sempre fiéis à sua missão.
Utilizando a expressão “fendas fundas” como mote, Jorge Revez apresenta-nos um processo longo e complexo na história do catolicismo a que chama vencidismo católico, e que pode, genericamente, ser entendido em três grandes etapas: a crítica, a ruptura e a recomposição. Esta experiência dissidente de muitos católicos ao longo das décadas de 60 e 70 do século XX viria a adquirir nome e forma poética com Ruy Belo (1933-1978), uma das mais importantes vozes da poesia portuguesa contemporânea, quando este escreve o poema Nós os vencidos do catolicismo.
Neste número da Communio, e à maneira de depoimento, apresentamos ainda dois textos com os quais se quer partilhar dois exercícios de olhar a Igreja na sua situação actual. A partir de Moçambique, Ida Alvarinho dirige um olhar sobre as realidades eclesiais em África, ajudando-nos a perceber como esse exercício nunca será um olhar generalizado, mas sim fragmentado em diversos olhares, com algumas percepções comuns, mas também com todos os factores intrínsecos a cada um na sua situação. Em O meu olhar sobre a Igreja, Margarida Alvim fala-nos da sua experiência de um progressivo aprofundamento da sua vivência eclesial, sublinhando alguns pontos particularmente relevantes da actualidade da Igreja: a atenção à pobreza no mundo e às novas formas de viver o cristianismo. Realça ainda as propostas inovadoras da Encíclica Caridade na Verdade, convidando-nos a um regresso às fontes, sobretudo no que respeita à oração e à partilha de bens, passando pelas novas linguagens e lançando pontes entre crentes e não crentes, de modo a orientar cada pessoa para um encontro pessoal com Cristo.
Finalmente, na secção Perspectivas, partilhamos com os nossos leitores mais dois textos: No primeiro Abrir-se/oferecer-se. Bento XVI convida o mundo da cultura ao diálogo, Thomas Alferi, partindo da frase final do discurso proferido pelo Papa, no dia 12 de Setembro de 2008 no Collège des Bernardins em Paris, perante um público muito heterogéneo e sobretudo secular, apresenta o convite que foi dirigido aos representantes do mundo da cultura para que não excluam a questão de Deus ou o fenómeno religioso do seu campo de visão.
No segundo, Maria José Vaz Pinto faz uma breve apresentação, na sua estrutura e conteúdos, da obra O tesouro escondido. Para uma arte da procura interior, de José Tolentino Mendonça e intenta também apresentar, como afirma, algumas “pistas” possíveis de “caça a esse tesouro”.
Esperamos sinceramente, com este itinerário, poder contribuir para um olhar, da Igreja e sobre a Igreja, que se quer sempre renovado.

(1) Discurso de João XXIII na inauguração do Concílio, a 11 de Outubro de 1962, in: Concílio Ecuménico Vaticano II, Braga 1976 (7ª edição), 433.
(2) Discurso de Paulo VI na inauguração da 2ª sessão, a 29 de Setembro de 1963, ibid., 453.
 
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