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Titulo do Artigo
Autor
Ano XXI • 2004-00-00 • nº 2 •
Vida Oculta de Jesus - Tempo Perdido?
 
palavra-chave
 
   

artigos
Tempo perdido? • pág 133
Brague, Rémi
Os evangelhos da infância de Jesus • pág 141
Maggioni, Bruno
A vida oculta de Jesus à luz dos Evangelhos. Esboço exegético • pág 149
Kertelge, Karl
Espiritualidade de Nazaré • pág 153
Greshake, Gisbert
O silêncio de Maria • pág 171
Carvalho, Maria Manuela da Conceição Dias de
Jesus no contexto sócio-político do seu tempo. Reflexões sobre o passado para a compreensão do p • pág 181
Lourenço, João
Agrapha. Sentenças de Jesus fora dos Evangelhos • pág 197
Neves, Joaquim Carreira das
Cristianismo na China. Percursos e proximidades • pág 209
Costa, Arquimínio Rodrigues da
O silêncio redentor de Jesus em Nazaré • pág 219
Maria, Irmãzinha Aida
Consciência da Europa e drama cristão em Reinhold Schneider • pág 227
Guerriero, Elio
Bach segundo Kagel. Notas para uma audição teológica • pág 235
Teixeira, Alfredo
Nos 100 anos do nascimento de Karl Rahner • pág 245
Pinho, José Eduardo Borges de


apresentação

HENRIQUE DE NORONHA GALVÃO


Na série dedicada aos mistérios da vida de Jesus, (1) depois do mistério do seu nascimento como incarnação do Filho de Deus, (2) oferece-se à nossa consideração o tempo que antecedeu a sua actuação pública. Tradicionalmente, chama-se a esse período “a vida oculta de Jesus”. Desde logo se pode perguntar: Terá sido esse um tempo perdido? Sobre esta questão reflecte o filósofo Rémi Brague, para chegar à conclusão de que, sendo o cristianismo a revelação de Deus na pessoa de Jesus Cristo, é preciso que esta “se constitua como o faz uma pessoa humana, por meio da […] história pessoal de um acesso à vida adulta.”

É por isso que merecem atenção particular os “evangelhos da infância” em cujo estudo somos guiados pelo exegeta Bruno Maggioni. “O extraordinário, que continuamente surpreende, é que um Filho de Deus tenha vivido durante anos uma vida de modo algum extraordinária.” Que sentido assume a realidade da vida oculta de Jesus, não apenas em contraste com a sua vida pública, mas também em continuidade com ela, explica-nos Karl Kertelge: “Quanto mais o evangelho de Jesus Cristo é especificamente uma proclamação pública, tanto menos lhe falta o motivo do recolhimento e do silêncio.”

Do ponto de vista das consequências que pode e deve ter para a nossa vida, iluminada pela fé, esse dia-a-dia do Messias e Filho de Deus, o teólogo Gisbert Greshake faz uma pormenorizada análise de algumas espiritualidades concretas do sec. XX. Em Nazaré, a Mãe de Jesus conduz-nos, pela sua vocação muito particular, ao seu próprio Filho. No seu coração e no silêncio, como nos expõe Maria Manuela de Carvalho, ela meditava no mistériode Jesus, encontrando desta maneira ela própria o seu lugar nesse mistério.

Questões com muita actualidade são tratadas por dois biblistas. João Lourenço confronta a situação sócio-política de Israel no tempo de Jesus com a actual. Joaquim Carreira das Neves começa por explicar o que são os agrapha, as sentenças ou ditos de Jesus que conhecemos por vias diferentes dos evangelhos. Mas uma procura acrítica desses ditos de Jesus pode descarrilar em toda a sorte de arbitrariedades, tal como hoje ainda acontece com publicações pseudo-científicas que tentam assim fazer passar as suas ideias sectárias.
Na vida oculta de Jesus podem encontrar ânimo e coragem aqueles cristãos que, ainda hoje, se têm de esconder para poderem viver com autenticidade a sua fé. O bispo emérito de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa, apresenta-nos a situação dos católicos na China actual. Da fecundidade de todo um testemunho de vida cristã, vivida de modo simples e quotidiano, nos fala a Irmãzinha de Jesus, Aida Maria, tornando-nos acessíveis as potencialidades da espiritualidade do Padre Charles de Foucauld.

Na secção Perspectivas, três tópicos merecem a nossa atenção. Através de Elio Guerriero ficamos a conhecer a importância de Reinhold Schneider (3) para se entender de que forma se cruzam, ao longo da história, a consciência da Europa e o drama cristão. No campo da música, o diálogo entre a obra de Mauricio Kagel e Johann Sebastian Bach, analisado por Alfredo Teixeira, introduz-nos num processo criativo singular, paradigmático da pretensão prometeica do ateísmo moderno. Na esteira de Nietzsche, evidencia-se esse “equívoco trágico” (Henri de Lubac [4]) do humanismo ateu, para o qual Deus deixou de constituir o horizonte necessário e a salvaguarda da grandeza e transcendência humanas, para ser reduzido a uma sigla da auto-suficiência de quem confia cegamente no humano. Neste sentido, a teologia antropológica de Karl Rahner pode ser lida como resposta profunda às inquietações do espírito moderno. Na data do centenário do seu nascimento, J. E. Borges de Pinho ajuda-nos a conhecer melhor essa figura ímpar da teologia do sec. XX.


1  Cf. Communio nº 2 de 2002 (ano XIX): Os Mistérios da Vida de Jesus.
2  Cf. Communio nº 1 de 2003 (ano XX): O Mistério da Incarnação.
3  Cf. a obra do seu amigo e admirador Hans Urs von BALTHASAR, Nochmals Reinhold Schneider, Einsiedeln: Johannes 1991.
4  Le drame de l’humanisme athé, Paris: Spes 41950; trad. port. O drama do humanismo ateu, Porto: Porto Editora s.d..

 
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