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Titulo do Artigo
Autor
Ano XVIII • 2001-10-31 • nº 5 • Setembro/Outubro
A Laicidade
 
palavra-chave
 
   

artigos
A laicidade • pág 389
Policarpo, D. José da Cruz
O catolicismo face à laicidade. Resignação ou oportunidade? • pág 400
Rico, Hermínio
Igreja e cultura democrática. Adaptação e conflitos • pág 411
Ballestrem, Karl Graf
Contributo das religiões para a partilha dos valores e da cidadania comum • pág 427
Aydin, Mehmet S.
A educação moral e religiosa católica na escola pública • pág 437
Ambrosio, Juan Francisco
Comunidade de Santo Egídio • pág 450
Riccardi, Andrea
Espiritualidade do comunicador na rádio e na TV • pág 461
Babin, Pierre
Imposto para as Igrejas na Alemanha • pág 472
Gerbert, Martin
Quebrar a espiral • pág 479
Pureza, José Manuel


apresentação

PETER STILWELL
MARIA C. BRANCO


A programação dos números da COMMUNIO é feita com grande antecedência sobre a sua publicação. Nalguns casos, precede-a em quase dois anos. Por coincidência, porém, o presente número abrange uma temática – a laicidade – que é de actualidade indiscutível, à luz dos terríveis acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, recordados pela nota de José Manuel Pureza.

A problemática regressou ao debate público há vários anos. Falou-se do retorno do religioso às sociedades secularizadas e do avanço de uma “Nova Direita Cristã” nos Estados Unidos; foram notícia o islamismo militante, o fundamentalismo judaico, o nacionalismo hindu, o radicalismo político no seio de populações católicas (IRA, ETA e Tigres Tamil); em vários países (entre os quais Portugal), levantou-se de novo a discus-são em torno da liberdade religiosa e da separação entre as religiões e o Estado. Mas, antes de Setembro de 2001, a opinião geral era de que se tratava de aspectos marginais, de alcance restrito. A história era vista como avançando de forma inexorável para uma sociedade global caracterizada pelo pluralismo político, cultural e religioso. A tanto parecia  obrigar uma crescente interdependência da infra-estrutura económica, ampliada pelas redes de informação.

A violência e destruição inimagináveis, praticadas em Nova Iorque e Washington, alteraram, subitamente, a nossa compreensão do mundo. Um vírus mortífero, de inspiração política e religiosa, cultivado no caldo fértil das injustiças na periferia da ordem internacional, atinge o coração simbólico do sistema económico e militar. Não se tratou agora de uma guerrilha circunscrita, visando a aplicação de um projecto político por via da chantagem violenta. A novidade está na eficácia de um ataque que não procura levar o outro à cedência ou à mesa das negociações, mas pura e simplesmente “matar” o sistema – encarado como materialista e edificado sem Deus, se não mesmo contra Deus, e por isso mal de raiz. O que está em causa, portanto, é uma avaliação religiosa de um sistema gerado por Estados laicos e sociedades secularizadas. Neste aspecto, é interessante recordar a sua avaliação feita por Alexis de Tocqueville no sec. XIX (Karl Ballestrem).

As palavras “laico” e “laicidade” configuram uma constelação de significados que são próprios das línguas latinas e impossíveis de traduzir, por exemplo, para a língua inglesa. Remetem para um combate contra a tutela, imaginada ou real, da religião, e da Igreja Católica em particular, sobre o Estado e a vida pública. As raízes desta oposição mergulham no Iluminismo e na Revolução Francesa, mas têm manifestações mais próximas nalgumas das democracias implantadas após a II Guerra Mundial, nomeadamente onde, como na Itália, a Igreja Católica patrocinou partidos de Democracia Cristã contra o Partido Comunista, reduzindo a uma pequena faixa intermédia os chamados partidos “laicos”, de tradição liberal, republicana e social-democrata.

A mesma separação entre Igreja e Estado, ou religiões e Estado, existe na tradição constitucional dos Estados Unidos. Mas a intenção é a inversa. O que se procura defender é a liberdade das Igrejas e das comunidades religiosas contra a interferência do Estado. Na memória colectiva está o facto de os primeiros colonos europeus terem sido dissidentes religiosos que fugiam à perseguição nos países de origem.

Num e noutro caso, o desafio que hoje se coloca às comunidades religiosas e Igrejas é o de saber como integrar de forma pacífica e responsável as sociedades plurais do Ocidente, sem abdicarem das suas convicções.

Contribuições como a de D. José Policarpo, Hermínio Rico e Mehmet Aydin podem abrir perspectivas fecundas.

Neste contexto será útil reflectir as questões concretas levantadas pelo ensino religioso na escola pública (Juan Francisco Ambrosio), pelo papel que uma comunidade religiosa pode desempenhar numa sociedade plural (Comunidade de St. Egídio), ou pela possibilidade de as Igrejas serem subsidiadas através de impostos, como é o caso da Alemanha (Martin Gerbert).

Completa ainda este número uma intervenção de Pierre Babin sobre a importância da espiritualidade para o comunicador cristão.

 
  KEOPS multimedia - 2006